Nota Técnica SOBEP
Versão 1 - 15/6/2020
A covid-19 é uma doença infecciosa causada por um novo coronavírus humano, denominado SARS-CoV-2, descoberto recentemente na província de Wuhan, na China. Dentre os sintomas mais frequentemente encontrados na infecção pelo SARS-CoV-2, destacam-se a febre, a tosse seca e a dificuldade respiratória. Parte das pessoas infectadas com esse vírus irão experimentar uma doença respiratória média a moderada e irão se recuperar sem requerer tratamento especial. Quando causa a síndrome respiratória aguda grave causa alta taxa de mortalidade em pessoas acima de 60 anos de idade e em pessoas com alterações sistêmicas prévias tais como doença cardiovascular, doenças respiratórias crônicas, diabetes, gestação e câncer. O SARS-CoV-2 se dissemina primariamente através de gotículas e aerossóis de saliva ou secreção do nariz quando uma pessoa infectada tosse ou espirra. Essas gotículas e aerossóis podem permanecer no ambiente e sobre superfícies por várias horas e dias e, por serem altamente infectantes, são capazes de infectar outras pessoas. Foi observado ainda que o grande número de portadores de covid-19 é assintomático, e que são transmissores do vírus. Até o momento não existe vacina disponível para a covid-19 e nem protocolos medicamentosos efetivos e seguros. A Organização Mundial da Saúde (OMS) e outros órgãos sanitários seguem recomendando que seja feito isolamento social para que diminua a circulação do vírus.
Tendo em vista as características da prática odontológica, a proximidade dos profissionais com a cavidade oral do paciente e os aerossóis gerados durante o atendimento, o risco de contaminação cruzada é alto entre dentistas e pacientes e protocolos rígidos de controle de infecção devem ser adotados com rigor.
Cirurgiões-dentistas devem se preocupar em se manter fora da cadeia de transmissão do novo coronavírus e para isso, é importante que sejam seguidas as recomendações atuais de entidades de Saúde como a OMS, o Centers for Disease Control and Prevention (CDC), a American Dental Association (ADA), o Ministério Saúde e a Agência de Vigilância Sanitária (ANVISA), bem como os órgãos reguladores no âmbito da Odontologia, Conselho Federal de Odontologia (CFO) e Conselhos Regionais de Odontologia (CRO) que têm sido bastante claros em seus documentos quanto à necessidade da Odontologia tomar medidas protetivas nesse momento ao atendimento de urgências e emergências.
De forma geral, os profissionais das áreas de Estomatologia, Patologia Oral e Maxilofacial e Odontologia Hospitalar, lidam com doenças e situações complexas, que podem comprometer a qualidade ou mesmo colocar em risco a vida do paciente e do profissional. Sendo assim, como representante dos profissionais das áreas supracitadas, a Sociedade Brasileira de Estomatologia e Patologia Oral (SOBEP), reforça as indicações de atendimento nessas áreas, listadas abaixo:
1) Avaliação inicial de lesão oral ou maxilofacial
2) Avaliação de dor orofacial
3) Avaliação, cuidado e acompanhamento odontológicos relacionados ao tratamento oncológico
4) Avaliação de situação clínica que esteja impactando negativamente na qualidade de vida do paciente
5) Biópsia de lesão com suspeitas de malignidade ou de agressividade ou que causem impacto negativo na qualidade de vida do paciente.
6) Acompanhamento de lesões com potencial de recorrência ou de transformação maligna ou que tenham evolução não esperada.
7) Remoção de sutura.
8) Laserterapia oral para suporte de pacientes oncológicos ou outras doenças que justifiquem.
9) Avaliação e cuidados odontológicos no leito hospitalar (CTI ou não).
10) Análise histopatológica de material biopsiado e revisões de lâminas (quando solicitada).
Caso o paciente se enquadre nos critérios acima, existem orientações prévias, durante e pós-atendimento/procedimento, para que não haja risco de transmissão da covid-19. Em tempos de pandemia e pós pandemia, o atendimento odontológico que envolve proximidade física extrema entre profissional e equipe auxiliar impõe adequado planejamento e a execução sequenciada e correta de todo e qualquer procedimento. O trabalho a quatro mãos deverá ser sempre estimulado para assegurar a prevenção da contaminação cruzada.
Para o atendimento em consultório, os cirurgiões-dentistas deverão seguir recomendações relacionadas à triagem dos pacientes:
a) previamente ao atendimento:
b) Recomendações quanto aos cuidados durante o atendimento:
c) Recomendações a serem seguidas após o atendimento:
Serviço de atendimento hospitalar:
Se o atendimento for feito em ambiente hospitalar, em ambulatório ou a beira do leito, as mesmas recomendações devem ser seguidas, respeitando-se as normas de controle de infecção para o enfrentamento da covid-19 da unidade.
Serviço de diagnóstico anatomopatológico:
Alguns estudos têm demonstrado que o vírus SARS-CoV-2 pode se manter viável por dias em superfícies inanimadas. Sendo assim, recomenda-se orientar a equipe do laboratório a realizar a desinfecção dos frascos dos exames (com álcool 70%) tomando o cuidado para que a identificação do frasco não seja apagada durante esse processo.
Para a manipulação do material biopsiado, em tempos de pandemia, recomenda-se a realização do exame macroscópico em capela de fluxo laminar com nível de biossegurança 2 (NB2) utilizando-se os EPIs. É recomendado também ter a disposição do patologista oral e maxilofacial um dispensador de álcool em gel a 70%, devido à manipulação de lâminas e blocos de parafina.
Diante do cenário atual, todas as orientações devem ser seguidas pelos profissionais de odontologia e equipe, mesmo que ainda não haja um tempo de duração estimado para a situação da pandemia de covid-19. Os cirurgiões-dentistas devem estar atentos às atualizações dos órgãos de saúde competentes, mantendo o compromisso de zelar pela saúde do paciente, de sua equipe profissional e de sua família.
Esta nota técnica foi escrita e atualizada em 15/06/2020, podendo ser atualizada a qualquer tempo, de acordo com a atualização do conhecimento sobre a covid-19.
Referências
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Comitê Assessor da SOBEP durante a pandemia do Covid-19
Águida Aguiar Miranda (SMS-RJ, ABO-RJ, UNIVERITAS)
Camila Maria Beder Ribeiro Girish (UFAL, UNCISAL, Cesmac, CEPAMA)
Fabrício Bitu (Universidade Federal do Ceará, Unichristus)
Marcelo Marcucci (Departamento de Estomatologia do Hospital Heliópolis – SP)
Victor Angelo M. Montalli (São Leopoldo Mandic)