Boletim Mensal - Janeiro 2004- SOBEP - Sociedade Brasileira de Estomatologia e Patologia Oral
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Boletim Mensal - Janeiro 2004

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Planta destinada à exportação previne úlceras

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Duas espécies de plantas comumente destinadas à exportação são capazes de prevenir a formação de úlceras no trato gastrointestinal, problema que atinge cerca de 10% da população mundial.

A pesquisadora Leônia Maria Batista, do Departamento de Fisiologia e Biofísica do Instituto de Biologia da Unicamp, estudou os efeitos da Syngonanthus bisulcatos e Syngonanthus arthrotrichus, duas das espécies popularmente conhecidas como sempre-vivas, em modelos animais que reproduzem as úlceras do homem. "Os experimentos mostraram excelente proteção da mucosa gástrica contra os agentes indutores de úlceras", revela Batista.

Espécie arthrotrichus, do gênero Syngonanthus que segundo Batista é rico em substâncias com atividade antioxidante Crédito: Laboratório de Produtos Naturais da Unicamp

A úlcera pode ser causada pelo consumo de álcool e cigarros, pelo uso contínuo de antiinflamatórios, como piroxicem, diclofenaco de sódio ou de potássio, nimesulida, aceciofenaco e ibupofeno, e por alimentação inadequada. O desenvolvimento de úlceras no organismo pode estar associado ainda a um agente infeccioso, como a bactéria Helicobacter pylori, mas o indivíduo também pode ter predisposição genética ao problema.

A pesquisa representa uma estratégia para o isolamento de substâncias ativas que possam gerar medicamentos nacionais eficazes e seguros que atuem na prevenção ao desenvolvimento de úlceras, pois essas espécies são encontradas em território brasileiro. Apesar dessa possibilidade, a pesquisadora ainda não tem previsões sobre o possível desenvolvimento de medicamentos ou estímulos ao uso fitoterápico da planta.

O gênero Syngonanthus pertence à família Eriocaulacea, que compreende as espécies conhecidas como sempre-vivas, que ocorrem em países tropicais. No Brasil, as duas espécies avaliadas no estudo são encontradas na Chapada Diamantina, Bahia, e na Serra do Cipó, em Minas Gerais. Em geral, as sempre-vivas são utilizadas na confecção de arranjos e buquês. Estados Unidos, Japão, Canadá, Espanha e Itália estão entre os países compradores desse tipo de flor. A coleta das plantas para exportação garante o sustento de muitas famílias das regiões onde elas são encontradas, mas também coloca em risco de extinção várias espécies de sempre-vivas.

A pesquisa desenvolvida por Batista, sob orientação da professora Alba Regina Souza Brito, coordenadora do Laboratório de Produtos Naturais, resultou em tese de doutorado, defendida em dezembro, na Unicamp. Os resultados obtidos no estudo serão agora enviados para publicação em revistas internacionais.


Produto nacional à base de papaína remove cáries sem uso da broca
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Um gel nacional à base de papaína, enzima presente no mamão, promete diminuir o sofrimento nos consultórios dentários. A solução amolece o tecido afetado pela cárie e permite sua retirada por meio de curetagem, sem necessidade da aplicação de anestesia. Lançado em janeiro no mercado, o produto tem como vantagem o baixo custo. O similar estrangeiro é quase sete vezes mais caro.
A fórmula é fruto de uma pesquisa de dois anos, conduzida pela cirurgiã-dentista Sandra Kalil Bussadori, professora da Universidade Metropolitana de Santos (Unimes) e das Faculdades Metropolitanas Unidas (UniFMU). Um composto com ação semelhante, à base dos aminoácidos leucina, lisina e ácido glutâmico, além de hipoclorito de sódio (água sanitária), já havia sido desenvolvido na Suécia e lançado há alguns anos no Brasil.

A versão nacional, entretanto, é bem mais barata. Uma bisnaga com 3 ml, suficiente para cerca de 60 obturações, custa R$ 30, enquanto que o produto sueco está em torno de R$ 200. "Minha mãe era nutricionista e sempre falava das propriedades da papaína, que é capaz de amolecer a carne. Como gosto de pesquisar, resolvi investigar sua ação no dente", conta a pesquisadora.
Outro princípio ativo do composto, numa proporção bem menor que a papaína, é a cloramina, um antisséptico derivado do cloro. O gel, batizado pela dentista de "Papacárie", age somente sobre a proteína desnaturada, ou seja, o tecido lesado pela cárie. Por isso, não há riscos de lesões caso a solução atinja a gengiva, a língua ou a bochecha. Tampouco existe possibilidade do produto afetar a camada sadia do dente. A substância, inclusive, é menos agressiva que o tratamento convencional. Como não amolece a parte saudável, preserva mais o dente do que as temidas brocas.


Ação reduzida sobre dor
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O produto tem ação reduzida ou, na maioria dos casos, nula sobre a dor, segundo informou Bussadori. Por ter um pH mais básico que o da dentina (camada que circunda a polpa dentária), o gel não passa para os túbulos dentinários, minúsculos canais por onde passam prolongamentos nervosos, presentes nessa região. O paciente não tem a sensação dolorosa, a não ser que a polpa fique exposta. A broca, por sua vez, destrói a dentina indistintamente, podendo atingir os túbulos dentinários e as terminações nervosas, causando dor.

O cirurgião-dentista Luís Felipe Seabra Teixeira, do Posto de Saúde Dr. Nascimento Gurgel, no Rio de Janeiro, vê a novidade com otimismo. Ele ressalta, porém, que o gel só vai agregar benefícios se trouxer rapidez ao serviço. "O custo de hora clínica é, freqüentemente, mais importante que o dos materiais usados no processo restaurador", explica Teixeira.
O produto foi testado in vitro (em tecidos biológicos) durante o ano de 2001. Hoje, já há resultados clínicos sob acompanhamento por mais de um ano. É preciso lembrar, entretanto, que o gel só funciona sobre o dente, portanto, é mais aplicável a cáries primárias. Em casos de reincidência, é preciso remover a restauração antiga, e esse procedimento normalmente é feito com a broca.

Bussadori fez uma parceria com o laboratório privado, que hoje comercializa o composto. O lançamento foi feito no 20o Congresso Internacional de Odontologia, entre os dias 25 e 29 de janeiro, em São Paulo (SP). A pesquisadora, que pretende investigar as aplicações da papaína na periodontia (gengiva) e na endodontia (canal), espera que o gel permita que a população carente tenha um maior acesso ao tratamento dentário.


Identificação de "perfil inflamatório" pode aperfeiçoar tratamento de cardíacos
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Um princípio que tem norteado vários estudos na área da medicina é que o corpo de cada indivíduo pode apresentar respostas distintas em casos de lesões muito semelhantes. Uma simples espinha pode causar inflamação em uma pessoa e, em outra, não passar de um pequeno ponto quase indolor. Uma pesquisa desenvolvida no Instituto do Coração de São Paulo (InCor) identificou um quadro inflamatório específico em pacientes que apresentam infarto e angina - uma espécie de "pré-infarto". O estudo, baseado na análise de 50 pacientes voluntários, pretende agora aferir o uso de medicação específica para combater essa inflamação, e assim, melhorar o tratamento dessas doenças.

Muitas pessoas imaginam que problemas cardíacos resultam apenas da obstrução de veias e artérias por "placas de gordura" que vão se acumulando ao longo do tempo. Segundo o doutorando Juliano de Lara Fernandes, que desenvolveu o estudo, existe um tipo de inflamação que precede o infarto e que pode até agravar essa obstrução. Trata-se de uma resposta imunológica do corpo humano, tecnicamente conhecida como T-helper 1 (Th1), que ocorre em todo o organismo e faz com que determinados tipos de células causem um processo inflamatório específico nas paredes de veias e artérias, podendo variar de intensidade. Desse modo, as placas de aterosclerose - nome técnico das conhecidas "placas de gordura" - ficam mais propensas a se romper e causar um entupimento.

O próximo passo da pesquisa é utilizar um medicamento denominado pentoxifilina, que combate essa resposta imunológica, em cada um dos pacientes. "Identificamos o problema e agora devemos propor um tratamento para ele", diz Fernandes. O paciente poderá ter um tratamento mais direcionado para o seu caso e, conseqüentemente, mais efetivo. O estudo, que teve essa etapa inicial concluída em dezembro de 2003, será publicado na revista Cytokine, que possui um alto índice de impacto, medido pelo número médio de citações de seus artigos. Cada artigo publicado na revista Cytokine é citado em média 2,34 vezes por outros autores. A média para revistas de cardiologia é 1,8.

O estudo realizado no InCor também abre portas para a compreensão de quadros patológicos mais complexos. Por se tratar de uma inflamação sistêmica - que atinge o corpo inteiro -, ela também pode ser responsável pelo aumento de derrames cerebrais ou obstruções de artérias periféricas pelo mesmo processo. "Além disso, este tipo de resposta imunológica também pode estar associado a um quadro conhecido como síndrome plurimetabólica, que envolve obesidade, resistência à insulina e hipertensão", afirma Fernandes.

Essa pesquisa é fruto de uma parceria do InCor com a Unicamp, o que possibilitou o acompanhamento de pacientes de São Paulo e Campinas. Concomitantemente à pesquisa, Juliano Fernandes também atuou como colaborador em outra, que visa aperfeiçoamento da utilização de ressonância magnética para o diagnóstico de problemas cardíacos, que pode vir a substituir o método tradicional, o cateterismo. Os testes de ressonância permitiram quantificar a espessura das paredes das artérias coronárias dos pacientes.

Em função dessa parceria entre as instituições de São Paulo e Campinas, o pesquisador teve a oportunidade de ser co-orientado pelos professores Otávio Rizzi Coelho e Maria Heloísa Blotta, da Unicamp, que participaram da pesquisa, além de contar com a orientação de Carlos Vicente Serrano Jr., da USP e com a colaboração da equipe de Ressonância Magnética do InCor .
Os resultados parciais da pesquisa também serão apresentados no Congresso Mundial da Ressonância Cardíaca, que ocorrerá em fevereiro deste ano, em Barcelona, na Espanha. Fernandes também avalia que ainda este ano, quando conclui seu doutoramento, poderá apresentar os resultados definitivos de ambos os estudos.


Ambulatório oferece exame para detectar tumores de origem hereditária
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O Ambulatório de Oncologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP está organizando o Ambulatório de Aconselhamento Genético para pacientes com histórico de câncer na família. Lá eles passarão por entrevistas e testes de rastreamento genético para descobrir se a doença dos familiares é de origem hereditária e quais as chances deles desenvolverem um tumor. "Existe benefício para o sujeito, seja na forma de alívio quando se descarta o fator genético, seja na forma de indicação de medidas preventivas no caso de estarmos frente a um portador de predisposição genética", explica Miriam Honda Federico, chefe do serviço de Oncologia do Hospital das Clínicas da USP.
O trabalho será iniciado com um grupo de três famílias que além do acompanhamento clínico farão testes sanguíneos para sequenciamento genético onde se determinam marcadores ou genes com mutações. Se uma mulher possui mutações nos genes BRCA 1 e BRCA 2, por exemplo, ela tem uma chance que varia entre 50% a 80% de desenvolver um câncer de mama ao longo da vida. Este fator pode determinar que esta mulher faça exames preventivos (ultra-sonografia e mamografia) antes da idade recomendada para a maioria das mulheres.
Segundo dados da Sociedade Brasileira de Mastologia, em 65% dos casos o câncer de mama é descoberto já num estágio avançado da doença o que agrava a situação e causa danos físicos e psicológicos às pacientes. Com o aconselhamento genético este quadro pode ser melhorado.
O sequenciamento genético pode indicar se uma pessoa tem predisposição a desenvolver o câncer através da identificação de mutações genéticas. O Ambulatório de Aconselhamento Genético da USP conta com a parceria do Hospital do Câncer e do Instituto Ludwig. Este último dará assessoria técnica para a equipe da USP para realização dos exames.
O Instituto Ludwig, um dos maiores centros de estudos de câncer do mundo, e o Hospital do Câncer de São Paulo, em parceria com a Fapesp, já patentearam o exame e deverão repassar a técnica para a empresa Diagnósticos da América (DASA), que controla grandes laboratórios de diagnósticos no Brasil. A partir daí, planos de saúde conveniados com estes laboratórios poderão oferecer o exame para pacientes que antes tinham que fazer testes fora do Brasil.

O ambulatório da USP, por sua vez, tem a intenção de tornar o aconselhamento genético rotina para pacientes que vem do Sistema Único de Saúde (SUS) ainda que inicialmente um número restrito de pessoas sejam atendidas. "Inicialmente nosso enfoque será para casos de câncer familiar detectados em nosso ambulatório geral. Do ponto de vista de atendimento, só existe justificativa para indicar o estudo genético em indivíduos suspeitos de serem portadores de predisposições genéticas, para as quais existam recomendações médicas a serem feitas. Essa recomendação tem o intuito de prevenir o aparecimento da doença ou de detectá-la em estágios iniciais, quando a cura é possível", conclui.

NOTÍCIAS DA SOCIEDADE

Atlas de Doenças da Boca
- O Atlas Online de Doenças da Boca, da Sociedade Brasileira de Estomatologia, é um serviço que será disponibilizado pela SOBEP em seu website e constará de um banco de dados de imagens de doenças que afetam a boca, incluindo seus aspectos clínicos, histopatológicos, radiográficos e outros pertinentes, com um breve texto descritivo associado. Todos os sócios da SOBEP são convidados e estimulados a colaborar na construção do Atlas e a partir deste mês as contribuições já podem ser enviadas. Para obter mais informações sobre as normas do Atlas e como colaborar .

Solicitamos aos prezados colegas que nos informem de datas de eventos, congressos, encontros, jornadas e defesas de dissertações e teses, para que possamos divulgar em nossos próximos boletins.

Atenciosamente,
Diretoria de SOBEP


 


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A Sociedade Brasileira de Estomatologia e Patologia Oral (SOBEP) é uma entidade científica sem fins lucrativos,
que congrega cirurgiões-dentistas que se dedicam à prevenção, diagnóstico e tratamento das doenças da boca.