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Boletim Mensal - Janeiro 2003

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Células Tronco: Conceitos e Aplicações Práticas
por: Antonio Carlos Bandouk - biólogo e coordenador do site Biotemas
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O isolamento e a cultura das primeiras cepas de células tronco pluripotentes abriram novas perspectivas para o desenvolvimento de novas pesquisas e tecnologias nas áreas biológicas e médicas. Promessas de terapias e de estratégias de prevenção de doenças hereditárias, bem como, discussões mais aprofundadas das questões éticas relacionadas a este tema, merecem ser avaliadas com mais cautela. Este artigo pretende esclarecer alguns dos principais conceitos e algumas definições mais importantes referentes ao estudo das células tronco, e, também, discutir as possíveis aplicações advindas do desenvolvimento destas pesquisas.

O que são células tronco?

Definimos células tronco como aquelas células que tem o potencial de se multiplicar ad infinitum dando origem a células mais e mais especializadas. É isto o que acontece durante o desenvolvimento humano normal. O espermatozóide, ao fecundar o óvulo, gera uma nova célula, o ovo fertilizado, que daí para frente deverá formar um organismo completo, diferenciando-se em tecidos e órgãos especializados. A esta capacidade do ovo fertilizado damos o nome de totipotência. Assim o ovo fertilizado é dito totipotente, pois o seu potencial de diferenciação é total. As primeiras divisões do ovo fertilizado geram células totipotentes idênticas. No útero materno qualquer destas células terá potencial para desenvolver um novo embrião. É assim que se formam os gêmeos idênticos: durante os primeiros estágios de divisão do ovo fertilizado, duas células totipotentes se separam e desenvolvem dois novos indivíduos geneticamente iguais.

Passados quatro dias após a fertilização, as células totipotentes começam a se especializar e formam uma esfera oca, denominada de blastocisto, com uma camada externa e uma massa celular interna. A camada externa de células do blastocisto, o trofoderma, formará a placenta e outros anexos. A massa celular interna do blastocisto deverá formar o próprio embrião. As células da massa celular interna são ditas pluripotentes, pois podem originar diversos tipos de células, mas não a placenta e os anexos. O potencial de tais células não é total, portanto.

Agora as células tronco pluripotentes deverão sofrer mais especializações e originar novas células tronco, as quais deverão gerar células com funções específicas. Assim temos as células tronco do sangue, encontradas na medula óssea de crianças e adultos, e que levam a formação dos glóbulos vermelhos, brancos e das plaquetas. Temos também as células tronco da pele, que dão origem aos vários tipos de células deste tecido. A estas células, ainda mais especializadas, damos o nome de células multipotentes.

Células Tronco no Laboratório

No laboratório as células tronco pluripotentes podem ser geradas por dois métodos: o método do Dr. Thomson e o método do Dr. Gerhart.
No método desenvolvido pelo Dr. Thomson as células tronco pluripotentes foram isoladas diretamente da massa interna de embriões humanos (blastocistos). O Dr. Thomson recebeu os embriões de clínicas especializadas em fertilização in vitro. Tais embriões estavam em excesso e tinham propósito reprodutivo, apenas. A autorização para utilizá-los com propósitos científicos foi dada pelos seus genitores. Assim o Dr. Thomson isolou as células da camada interna do blastocisto, cultivou-as, e, finalmente, produziu uma linhagem de células pluripotentes.

Já no método do Dr. Gearhart as células tronco pluripotentes são isoladas do tecido fetal. Tais células são obtidas com a autorização de doadoras que decidiram interromper a gravidez. O Dr. Gearhart utilizou células de uma região do feto destinada a produzir testículos ou ovários. Embora as células desenvolvidas nos laboratórios do Dr. Gearhart e do Dr. Thomson tenham vindo de fontes diferentes elas aparentemente eram muito similares.

Outra maneira de se isolar células tronco é pela técnica do transplante nuclear de células somáticas (SCNT). De acordo com esta técnica primeiro isola-se uma célula-ovo animal e remove-se o seu núcleo. O material que resta contém nutrientes e outras substâncias produtoras de energia, essenciais para o desenvolvimento do embrião. Então, em condições laboratoriais adequadas, uma célula somática (qualquer célula de um organismo que não o espermatozóide ou o óvulo) é colocada próximo ao ovo, cujo núcleo havia sido previamente removido, e fusionada a este. A célula resultante e os seus descendentes imediatos, teoricamente tem potencial total para se desenvolver num organismo completo, ou seja, tal célula é totipotente. Formado o blastocisto as células da massa interna serão usadas para desenvolver linhagens de células tronco pluripotentes. De fato, qualquer método que possa formar um blastocisto humano, serve como fonte de células tronco pluripotentes.

Importância para a Ciência e para a Medicina

O isolamento das células tronco pluripotentes deverá ser de importância fundamental para o avanço da ciência e da medicina. O estudo das células tronco deverá nos ajudar na compreensão dos eventos mais complexos que ocorrem durante o desenvolvimento humano, como a identificação dos fatores envolvidos nos processos de tomada de decisão das células, processos que resultam na especialização celular. Saber como os genes "ligam" ou "desligam" é de importância central para a compreensão destes processos. Algumas de nossas doenças mais sérias, como o câncer ou os defeitos congênitos são devido a especializações anormais das células e a problemas relacionados à divisão celular. Uma melhor compreensão dos processos celulares nos permitirá delinear os erros fundamentais que causam estas doenças freqüentemente mortais.

As pesquisas com células troncos humanas poderão mudar a maneira pela qual desenvolvemos novas drogas e novos testes para estas drogas. Por exemplo, novos medicamentos poderão ser inicialmente testados usando-se linhagens de células humanas oriundas de células tronco pluripotentes. Assim, somente as drogas que se mostrarem seguras e apresentarem algum efeito benéfico na linhagem celular onde foram testadas, poderão ser utilizadas em testes com animais e seres humanos.

Talvez a aplicação mais difícil de se concretizar seja a geração de células e tecidos para o uso em "terapias celulares". Muitas doenças e desordens resultam de uma interrupção da função celular ou da destruição de tecidos do corpo. Hoje é muito comum utilizarmos órgãos doados para substituir tecidos que estão doentes ou que foram danificados. Infelizmente o número de pessoas que sofrem destas desordens é muito maior que o número de órgãos disponíveis para transplante. Células tronco pluripotentes estimuladas para desenvolver tecidos especializados, ofereceriam a possibilidade de uma fonte renovável de células e tecidos para tratar de uma variedade de doenças como mal de Parkinson, mal de Alzheimer, diabetes, queimaduras osteoartrites e etc. Em quase todas as áreas da medicina podemos vislumbrar uma possível aplicação das células tronco pluripotentes.
Tais pesquisas, por enquanto, ainda são muito promissoras. Precisamos fazer muito para concretizarmos tais inovações. Os desafios tecnológicos relacionados a essas descobertas poderão ser incorporados nas práticas clínicas.

Antes de começarmos a usar tais células para o transplante teremos que superar o bem conhecido problema da rejeição do sistema imune. As células tronco pluripotentes a serem transplantadas seriam derivadas de embriões ou tecidos fetais geneticamente diferentes das células do organismo receptor. Pesquisas futuras seriam necessárias para se tentar minimizar a incompatibilidade dos tecidos ou para se criar um banco de tecidos com os tipos mais comuns.

Células Tronco Adultas

Quanto às células tronco adultas já sabemos que podem ser encontradas apenas em alguns tipos de tecidos adultos. Até recentemente pensava-se que células tronco não pudessem estar presentes no tecido nervoso, mas de uns poucos anos para cá células tronco neurais puderam ser isoladas de tecidos do sistema nervoso de ratos e camundongos adultos. Nos humanos as células tronco neurais já foram isoladas de tecido fetal, e um tipo de célula que pode ser considerada uma célula tronco neural foi isolada de tecido cerebral adulto, cirurgicamente removido durante um tratamento de epilepsia.

Pensava-se, também, que as células tronco adultas multipotentes não pudessem mudar o curso de seu desenvolvimento; assim, células tronco multipotentes do fígado somente gerariam células típicas deste tecido, a mesma coisa para as células tronco da pele e do sangue. Recentes pesquisas com animais, entretanto, estão levando os cientistas a mudar esta visão. Por exemplo: experimentos recentes feitos com camundongos sugerem que, quando células tronco neurais são transplantadas para a medula óssea, elas parecem produzir uma variedade de células do tecido sanguíneo. Além disso estudos com ratos tem indicado que células tronco encontradas na medula óssea foram capazes de produzir células do fígado.

Embora o uso de células tronco adultas permaneça ainda uma promessa devemos saber que existem algumas limitações significativas sobre a possibilidade de sua utilização para fins médicos. Antes de mais nada, devemos saber que as células tronco adultas ainda não foram isoladas para todos os tipos de tecidos humanos. Embora muitos tipos diferentes de células multipotentes tenham sido identificadas, células tronco adultas para todos os tipos celulares ainda não foram encontradas em humanos adultos. Por exemplo: nós ainda não encontramos células tronco adultas cardíacas ou células tronco adultas do pâncreas.

Em segundo lugar, células tronco adultas estão presentes em pequenas quantidades, são difíceis de se isolar e purificar, e o seu número pode decrescer com o passar dos anos. Por exemplo: células do cérebro de adultos, que podem ser células tronco neurais, puderam ser obtidas somente quando da remoção de uma porção do cérebro de pacientes epilépticos, procedimento pouco comum.

Qualquer tentativa de se usar células tronco do próprio corpo do paciente em terapias celulares deverá ser precedida de um isolamento destas células e posterior cultura das mesmas, até que se consiga um número suficiente para dar prosseguimento ao tratamento. Para algumas desordens mais agudas talvez não haja tempo o suficiente para se cultivar tais células, até que se consiga uma quantidade adequada. Em outras desordens, causadas por defeito genético, tal defeito poderá estar presente já nas células tronco do próprio paciente, o que as torna impróprias para o transplante. Existem evidências que mostram que as células tronco adultas não tem a mesma capacidade de proliferar que as células mais jovens. Além disso, células tronco adultas podem conter muito DNA defeituoso, devido a exposição ao meio, como a luz do sol, toxinas e devido aos esperados erros que surgem com a replicação do DNA, durante o transcorrer da vida. Essas potenciais fragilidades podem limitar a utilização de células tronco adultas.

Pesquisas relacionadas aos primeiros estágios da especialização celular não são possíveis com células tronco adultas, já que elas estão mais distanciadas do caminho que leva a especialização do que as células tronco pluripotentes. Além disso, uma linhagem de células tronco adultas pode ser capaz de formar talvez três ou quatro tipos de tecidos, mas não há evidências de que células tronco adultas, humanas ou animal, sejam de fato pluripotentes. De fato não há evidência de que células tronco adultas tenham o potencial característico das células tronco pluripotentes. Para se determinar as melhores fontes de células e tecidos, que poderão ser utilizados em terapias celulares é de vital importância o estudo do potencial de desenvolvimento de células tronco adultas e compará-lo com o das células tronco pluripotentes.

MEC realizará concurso
(Disponível em )

Apesar de ainda não ter edital pronto nem datas definidas, o Ministério da Educação realizará concurso ainda este ano para preencher cerca de oito mil vagas entre servidores e professores universitários .
As universidades receberão metade das vagas destinadas a professores ficando a outra metade com as escolas federais . A situação é mais dramática nos hospitais universitários que pela elevada carência de pessoal se viram obrigados a trabalhar com contratados utilizando para isto verbas do SUS, que deveriam ser usadas apenas no custeio do atendimento aos pacientes e não na contratação de pessoal.


 


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A Sociedade Brasileira de Estomatologia e Patologia Oral (SOBEP) é uma entidade científica sem fins lucrativos,
que congrega cirurgiões-dentistas que se dedicam à prevenção, diagnóstico e tratamento das doenças da boca.