Profº Ricardo Della Coletta - Professor Associado, área de Patologia, Faculdade de Odontologia de Piracicaba, Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP)
Marcadores biológicos, ou simplesmente biomarcadores, podem ser úteis em diversos estágios do tratamento do paciente com câncer, auxiliando nos processos de diagnóstico, estadiamento, avaliação da resposta terapêutica, detecção de recorrências e prognóstico. Eventualmente pode determinar grupos de risco para o desenvolvimento de um tipo específico de tumor e, até mesmo, auxiliar no desenvolvimento de novas modalidades de tratamento.
Embora muitos esforços tenham sido realizados no intuito de identificar biomarcadores para o câncer oral, nenhum, até o momento, é efetivamente utilizado na rotina clínica. Em outras palavras, nenhum marcador é indicativo do comportamento dos cânceres orais ou do prognóstico do paciente. Como revisado por Tine M Søland & Ingvild J Brusevold no artigo “Prognostic molecular markers in cancer – quo vadis?” (Histopathology 2013, 63, 297–308.) - recomendo a leitura deste manuscrito a todos os interessados nesta área - a ausência de biomarcadores no câncer oral é em grande parte devido a estudos com abordagens inadequadas, incluindo desenho do estudo, tamanho da amostra e métodos estatísticos. Outro ponto interessante é que a vasta maioria dos estudos sempre busca por novos marcadores, havendo uma resistência a estudos de validação que busquem confirmar, em momentos diferentes, a eficácia de um biomarcador.
Ainda hoje, o sistema TNM de estadiamento clínico e as características histopatológicas do tumor são os principais indicadores de manejo clínico do paciente com câncer oral. Contudo, é reconhecido que estes aspectos apresentam limitações e não conseguem representar a grande variabilidade clínica, genética e comportamental dos cânceres orais. Então, é fundamental que busquemos por fatores que possam caracterizar o comportamento biológico do tumor, servindo de parâmetro para decidir qual é a melhor abordagem terapêutica para o paciente e auxiliando como ferramenta preditiva de prognóstico.
O câncer oral é geneticamente muito heterogêneo e isso pode influenciar no comportamento biológico do tumor. Lesões com mesma localização e similares aspectos clínico e histológico podem apresentar comportamentos distintos. Então, conhecer os eventos biológicos associados ao câncer oral se torna uma etapa fundamental antes de qualquer aplicação na prática clínica.
O sucesso dos biomarcadores para o diagnóstico e manejo dos cânceres é notório. Um bom exemplo é da oncoproteína c-erb-B2 que quando presente nos cânceres de mama indica um tumor mais agressivo e com um tratamento específico altamente eficaz. Desta forma, estudos na busca de biomarcadores devem continuar, mas estudos multicêntricos com amostras grandes, com uma maior padronização na coleta e processamento das informações e com períodos longos de acompanhamento devem ter um maior sucesso na identificação de biomarcadores para o câncer oral.
Os biomarcadores mais estudados no câncer oral são p53, Ki67 e EGF/EGFR, mas como salientado nenhum destes mostrou um constância entre os diferentes estudos. É difícil apontar para um marcador específico e na verdade acredito que não exista um único marcador, e sim um conjunto de marcadores que junto possam contribuir na orientação da melhor opção terapêutica dos pacientes e na predição do prognóstico. Até pouco tempo atrás se buscava por biomarcadores relacionados a proliferação celular, mas hoje se tem conhecimento que eventos associados a migração e invasão tumoral talvez sejam mais relevantes. Então, muito tem se investido em entender os mecanismos de promoção da invasão tumoral e buscado por biomarcadores associados a este processo. Em adição, além dos estudos que analisam os genes/proteínas específicas na célula tumoral, muita atenção tem sido dada também as interações com o microambiente tumoral, particularmente eventos relacionados a angiogênese, a resposta inflamatória e a presença de CAFs (carcinoma-associated fibroblasts)